segunda-feira, junho 27, 2011

A Copa Petrobras de Marcas pode dar certo?




Acompanhar as 24 Horas de Le Mans, ver o quanto um embate entre fabricantes pode mobilizar o mundo e logo depois voltar nossos olhares para o Brasil nos faz pensar: é possível que o novo Brasileiro de Marcas – que começa no próximo domingo, dia 19 – dê certo e tenha relevância de verdade?
Uma das questões que sempre surgem nas palestras que estamos apresentando sobre os car lover  é sobre a Stock Car. Afinal, por que a principal categoria do automobilismo brasileiro não consegue envolver o público, mesmo com o apoio da nossa principal rede de televisão?
A resposta é simples – pelo menos para nós. O público de qualquer modalidade esportiva divide-se em dois grupos: os profundos entusiastas do esporte, que se interessam pela essência e qualidade da competição, e os torcedores. A Stock não satisfaz nenhum dos dois grupos. Apaixonados por automobilismo sabem que se trata de uma categoria defasada, que corre em autódromos subdimensionados, com regras estranhas e bólidos sem nenhum apelo tecnológico ou relação com o mercado.

Já os torcedores, como o próprio nome diz, precisam torcer por algo. Na Fórmula 1, torcem por pilotos do país. No WTCC, DTM, TC2000, WRC, Dakar e em Le Mans, costumam apoiar as fábricas. Chega a ser emocionante ver as pessoas enaltecendo a Audi ou a Peugeot, relembrando as glórias de Ferrari, Porsche, Ford e Jaguar na Mulsanne. É um tipo de envolvimento entre público e marca que qualquer agência de propaganda daria o sangue para conseguir cultivar.
Na Stock, todos os pilotos são brasileiros (e não exatamente ídolos), e a presença das marcas é apenas fictícia. Sem o envolvimento dos aficionados por automobilismo e sem a capacidade de gerar torcida, não há nenhum foco de interesse capaz de fazer as pessoas se aprofundarem e acompanharem de verdade a categoria.
O novo Brasileiro de Marcas, cujo patrocínio traz a reboque o nome Copa Petrobras de Marcas, é justamente uma tentativa de criar uma competição nacional multimarcas capaz de mobilizar o público ao redor dessa disputa.
Nos dias 28 e 29 de maio, aconteceram no Autódromo Internacional de Curitiba os primeiros treinos e a apresentação dos carros, pilotos e equipes envolvidas. A primeira corrida oficial acontece no dia 19 de junho, no Autódromo de Tarumã/RS, e será transmitido ao vivo pela RedeTV. A temporada inicial  terá 16 corridas (duas baterias por dia) com duração de 25 minutos cada.

A princípio participarão quatro montadoras, com quatro modelos de veículos:
Honda – New Civic
Ford – Focus Sedan
Toyota – Corolla
Chevrolet – Astra
Parece bem interessante, não? Ocorre que os carros são na verdade padronizados. Os monoblocos são reforçados com estruturas tubulares confeccionadas pela JL Industria. Os motores utilizados limitam-se a um único tipo, os Ford Duratec 2.0 16v preparados pela  Berta/Cosworth, gerando cerca de 280 cv para as rodas dianteiras. O câmbio é um Xtrac de seis marchas seqüencial, freios AP Racing, rodas OZ de cubo rápido calçadas em pneus slick Pirelli e injeção Motec. A única diferenciação entre Civic, Focus, Corolla e Astra será a carroceria, bem próxima dos modelos de rua nos quais foram inspirados – ao contrário do que ocorre na Stock.
O Chevrolet Astra da Mico’s Racing pilotado por Valdeno Brito fez o melhor tempo, com 1min26s926. Para se situar, trata-se de um tempo que fica entre os recordes do WTCC (1min24s761) e do Trofeo Maserati (1min27s538) no mesmo autódromo. Valdeno disse muito feliz com o rendimento do carro. O amigo Conrado Saltini esteve em Curitiba para conferir e clicar os treinos e nos disse: “Mesmo nos treinos, deu pra ver que vai ser uma categoria legal. Os carros parecem ser bem equilibrados e uma categoria com FWD forte faltava no Brasil. O ronco é absurdo, coisa linda de ver e ouvir”.
Tecnicamente, trata-se sem dúvida de uma categoria interessante, e nós como entusiastas sempre achamos bem-vinda qualquer iniciativa do tipo. Pilotos terão mais chances de mostrar seu talento, equipes de competição poderão absorver mais mão-de-obra apaixonada por carros, e o público poderá acompanhar boas disputas entre pilotos.

O problema é que a falta de envolvimento real das fábricas e a distância intransponível entre o que corre na pista e o que temos nas ruas deixa o novo campeonato de Marcas muito próximo do que já é a Stock, e conseqüentemente mais longe do que seria um sucesso. Sem falar na estranheza que é ver carros com o logo da Honda, Toyota e Chevrolet competindo com motores Ford.
Isso acaba nos levando às perguntas: por que as fabricantes continuam relutantes em investir em um campeonato de marcas que mostre de verdade a capacidade e a paixão de cada uma delas? Por que no Brasil categorias de bólidos caríssimos como a Porsche Cup e a Itaipava GT sobrevivem, enquanto uma simples competição entre carros de produção nacional modificados não sai do papel desde os anos 80? Por que a Vicar (organizadora da Stock e da nova Copa Petrobras) insiste em criar categorias que subvertem as exigências do público – nós – que realmente poderia se envolver com isso? Será que esses caras não assistiram as 24h de Le Mans para perceber quanta audiência, público, tradição e espírito automobilístico uma verdadeira disputa entre marcas pode gerar?
Infelizmente, ainda não sabemos. Por enquanto, confira o calendário oficial, e faça o favor de acompanhá-lo, pois pelo menos os pegas entre os pilotos (que são bons, não tenha dúvida) prometem ser bem legais.
19/06 – Tarumã (RS)
17/07 – Interlagos (SP)
31/07 – Rio de Janeiro (RJ)
21/08 – Velopark (RS)
25/09 – Brasília (DF)
30/10 – Rio de Janeiro (RJ)
20/11 – Paraná (PR)
04/12 – Curitiba (Paraná)
Pablo Peón, presidente da TC2000 argentina esteve presente. Ele e a organização da Copa de Marcas estudam no futuro a criação de uma copa sul-americana. Mesmo no formato atual de estrutura tubular e motor padronizado, seria uma boa…
Crédito das fotos: Conrado Saltini

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